Atravessamos um ano de pandemia. Perdemos parentes, perdemos amigos, perdemos conhecidos, perdemos francisquenses… E quanto mais passa o tempo, mais somos seduzidos a aceitar que as perdas, apesar de lastimáveis, fazem parte da normalidade. Pergunto, isso é normal!
Uma tradição universal
Desde as sociedades primevas até os dias atuais, cultuar os mortos é uma prática inserida nos costumes de países por todo o mundo. O luto faz parte de uma tradição universal. Seja como despedida, como passagem, como homenagem, como reflexão, seja qual for o significado ou a função que assuma, o luto é um padrão de comportamento prevalente.
Mas o que é a normalidade
A normalidade é um padrão, e padrões podem ser alterados. Moda, lei, religião, ciência, literatura, enfim, um sem número de fatores influem na forma como expressamos o que somos, como existimos. O “ser humano” é “um ser cultural” e a cultura faz com que adotemos ou aperfeiçoemos padrões com uma rapidez, digamos, razoável, para não dizer, surpreendente.
Por que nos acostumamos com a morte pela Covid
Se somos seduzidos a aceitar a morte pela Covid-19, não é porque mortes são normais em uma pandemia fazendo, assim, que vítimas virem números. Essa anuência não tem relação alguma com padrão cultural e, por conseguinte, com civilização. Nos acostumarmos com a morte pela Covid não tem relação com normalidade. Isso tem outro nome.
Banalização
A banalização corrompe valores. O nosso instinto de preservação quer, para nossa satisfação, tornar banal o extraordinário. Já fechamos os olhos para as vítimas do trânsito, da fome, da violência, do câncer, enfim, agora estamos mais uma vez sendo desafiados e o desafio é não deixar que se torne banal a morte na pandemia.
Gatilho político
Por incrível que possa parecer, a banalização não decorre de uma questão política. Esse menosprezo, ou pragmatismo exacerbado, é algo pessoal e não tem a sua gênese na política – que é apenas um gatilho. – É uma questão preexistente, de autoridade moral e denota a falta de sentimento de pertencimento em um povo.
Um gesto
Embora seja necessário, para evitar o contágio, que velórios e enterros sofram limitações, passado um ano de pandemia, seja como medida de conscientização, seja como expressão de solidarismo, a sociedade está em débito com a vítimas da Covid-19. Vamos saldar esse débito e que seja através de um gesto…
… nós precisamos de um dia de lockdown.
Emerson Souza Gomes
Blogueiro e advogado
www.cenajuridica.com.br