
Caros leitores, por mais que tentemos buscar algum alento no meio da escuridão institucional que se abateu sobre o Brasil, é inevitável concluir que estamos diante de um país em colapso ético, político e econômico. A corrupção não é mais um desvio de conduta: tornou-se o sistema em si.
O lamaçal que engole a República não é um acidente de percurso, mas o próprio caminho trilhado pelas elites políticas e financeiras que, com rara competência para o mal, capturaram o Estado brasileiro. Os escândalos de corrupção não cessam. Ao contrário: multiplicam-se, sucedem-se com tamanha frequência que já nem causam espanto.
Governadores, ministros, deputados, senadores, juízes, empresários, todos embaralhados em esquemas que roubam não apenas o dinheiro público, mas sobretudo a esperança de um povo. Não há punição. As operações policiais, antes promissoras, agora são desmobilizadas, deslegitimadas ou sepultadas nos tribunais superiores, transformados em trincheiras de autoproteção da elite política.
As instituições, vendidas como pilares da democracia, ruíram. Não representam mais o povo. Representam a si mesmas.
A promiscuidade entre os Três Poderes beira a obscenidade. O Executivo se curva ao Centrão, que exige – e obtém – bilhões em emendas em troca de fidelidade política. O Legislativo aprova pautas de interesse próprio, blindando seus membros da Justiça e impedindo qualquer avanço estrutural no combate à impunidade. E o Judiciário, convertido em protagonista da crise, age seletivamente, com decisões que favorecem quem tem sobrenome forte ou padrinho influente.
Enquanto isso, a dívida pública explode. A engrenagem é perversa e conhecida. O Estado se endivida para financiar seus próprios erros e pagar os juros abusivos definidos por um Banco Central capturado pelo sistema financeiro.
Os programas sociais, em vez de serem financiados por uma arrecadação justa e eficiente, são sustentados por endividamento. É o pobre financiando o próprio socorro, com dinheiro emprestado dos bancos que, ano após ano, batem recordes de lucro.
A cada trimestre, os balanços das instituições financeiras parecem deboche. Enquanto o povo aperta o cinto, eles estouram champanhe. A população, sufocada por juros exorbitantes e crédito fácil, cai na armadilha do consumo financiado.
Famílias inteiras vivem sob o jugo do rotativo do cartão, dos consignados e dos refinanciamentos eternos. O endividamento pessoal, que deveria ser um problema de política pública, é tratado como oportunidade de negócio por bancos e financeiras, com a conivência de um governo que prefere alimentar a ciranda financeira do que enfrentar seus verdadeiros algozes.
Dizer que o Brasil não tem salvação talvez soe duro, até desesperançoso. Mas que esperança pode haver quando todos os mecanismos de correção foram corrompidos? Quando o crime compensa e a virtude é punida com invisibilidade ou desilusão?
O país vive uma decadência silenciosa, que destrói a confiança coletiva e naturaliza o absurdo. A verdade é que não se trata apenas de trocar governantes. O sistema está apodrecido.
E enquanto não houver ruptura com esse modelo – não de forma golpista, mas por meio de uma regeneração radical da política, das instituições e da relação entre o Estado e a sociedade – continuaremos a afundar nesse pântano. O Brasil de hoje não é apenas um país em crise. É um país sequestrado. E os sequestradores usam terno, toga e mandato.
Thales Aguiar – Jornalista e escritor
Especialista em Ciência Política