Itapoá chega aos 34 anos em pleno desenvolvimento

Segundo estudo da consultoria Arkhe dois fatores foram decisivos: a duplicação da BR-101 e a chegada do Porto Itapoá

Itapoá completa 34 anos vivendo um período de desenvolvimento sustentável, segundo estudo da consultoria Arkhe. Na prática, isso quer dizer que o município conseguiu se desenvolver em termos de qualidade, fazendo com que a pressão sobre os equipamentos públicos tenha sido respaldada pelo aumento expressivo de arrecadação e investimentos no município.

Segundo o responsável pelo estudo, o engenheiro agrônomo e doutor em geociências, Osvaldo Aly Júnior, dois fatores foram decisivos para essa virada: a duplicação da BR-101 e a chegada do Porto Itapoá. “Houve um efeito sinérgico entre estes fatores e o desenvolvimento de Itapoá, o que gerou oportunidades para que o município crescesse economicamente com condições para gerenciar esse processo”, explica o consultor.

Os recursos naturais da cidade – precisamente as águas profundas da Baía Babitonga – propiciaram a chegada do Porto, afirma Aly Júnior. “O terminal portuário e todas as empresas que se instalaram na região aproveitando a atividade portuária foram diretamente responsáveis pelo aumento do número de empregos formais, enquanto o País todo enfrentou um cenário de aumento da informalidade”.

Dados da LCA Consultores, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, corroboram com a excepcionalidade do caso de Itapoá. Enquanto o Brasil viu a formalidade do trabalho cair de 43% da população economicamente ativa para 38% entre 2014 e 2022, o município catarinense teve um incremento de 340% na formalização do trabalho entre 2010 e 2020.

Atualmente, cerca de 50% dos postos de trabalho gerados na cidade estão ligados à atividade portuária, sendo o Porto Itapoá responsável por mais de mil empregos diretos e cerca de quatro mil indiretos. Estima-se que somente os funcionários do Terminal movimentem aproximadamente R$ 30 milhões no município por ano.

O presidente da Acini (Associação Comercial e Industrial de Itapoá), Jerry Sperandio, acredita que a formação de uma população formalmente empregada foi fundamental para o desenvolvimento econômico da cidade. “Muitos filhos de pescadores e trabalhadores da construção civil, ao se tornarem trabalhadores com renda formal, puderam ter acesso a crédito e a programas governamentais e adquirir imóveis”, analisa Sperandio, que também é empresário do ramo imobiliário. “Antes disso, o mercado local vendia, basicamente, terrenos. A cada dez vendas, somente uma era residência pronta.”

Sperandio enxerga a relação do Porto Itapoá com o município de forma estratégica. “Primeiramente, o porto é um grande divulgador da cidade, em todo o mundo. Em segundo lugar, o Terminal está geograficamente localizado no extremo sul do município, não interferindo no cotidiano da cidade”, analisa. “Ainda temos um grande potencial industrial gerado pelo porto. Para isso temos área, condição logística e capacidade de absorver esses trabalhadores”.

A formalização do comércio também é apontada pelo presidente da Acini como um benefício. Todos esses elementos somados têm um grande impacto sobre a arrecadação municipal: de 2010 a 2022, o aumento da receita do Município saltou de R$ 35 milhões para aproximadamente R$ 200 milhões, mais de 570% de crescimento.

Em comparação a municípios vizinhos, Itapoá teve um crescimento populacional bastante similar. Entretanto, a pujança econômica criou um cenário diferenciado para a cidade, segundo o consultor Osvaldo Aly Jr. “Se houve aumento na demanda pelos serviços públicos, o crescimento da economia deu condições de arcar com essa realidade”, explica.

No caso da educação, por exemplo, a variação entre o número de equipamentos públicos e contratação de docentes apresentou pouca variação. Enquanto em 2008 escolas e creches somavam 28 unidades, em 2020 foram apenas 24. Já o número de docentes foi de 170 para 198 no mesmo período.

Este foi mais um dos setores que abriu janelas para oportunidades. Com crescente demanda por vagas em sala de aula, uma escola particular iniciou suas atividades em 2012. No início, eram turmas do maternal ao 4º ano do ensino fundamental. Em 2014 iniciaram as atividades com o ensino fundamental II e também a ampliação da estrutura, relata Suely de Pauli Almeida, coordenadora pedagógica do colégio COC. “Em 2015, passamos a oferecer ensino no período integral e, em 2018, o ensino médio. Atualmente, contamos com 249 alunos e 40 colaboradores”, salienta. Os filhos de funcionários do porto correspondem a uma grande parte dos alunos.

Por suas belas e extensas praias, Itapoá se tornou um destino turístico nos meses de verão. A baixa temporada, no entanto, era um período desafiador para o setor de hotelaria. A chegada do Porto Itapoá à cidade fomentou o setor através de um novo ramo: o turismo de negócios. A proprietária da Lindner Gestão de Hotéis, Luciana Lindner, é gestora do hotel Partner Itapoá e tem visto uma ocupação de 80 a 85% na baixa temporada. Os clientes corporativos atualmente correspondem a 65% do total, afirma. “Tenho colegas que trabalham em regiões puramente turísticas que sofrem muito na baixa temporada. Existe um custo fixo e variável e aproveitar este nicho é uma forma de contornar a sazonalidade do turismo local”, esclarece Lindner.

Além disso, este hóspede acaba se encantando com as belezas naturais da cidade e voltando outras vezes para o lazer. “Muitos que vêm a negócios depois voltam com a família. É uma vertente muito grande de serviços”, explica a empresária.

Existe uma cadeia de serviços beneficiados com o movimento gerado pela atividade portuária e o resultado é sentido diretamente pela população. O consultor da Arkhe, Osvaldo Aly Júnior, ressalta a necessidade de interação e coordenação entre poder público, iniciativa privada e a sociedade civil organizada. “É preciso atuar para que essa sinergia dê ainda mais frutos”.

O presidente do Porto Itapoá, Cássio Schreiner, entende a relevância da empresa para o município e acredita que há, ainda, muito para ser visto na região. “O crescimento de nossa operação, bem como dos investimentos que temos feito, mostra a que viemos”, e completa: “Temos um grande potencial e uma oportunidade única na região”.