ESPECIAL: A fumaça que parou uma cidade – O incidente


Por Marcelo Henrique

Na noite de 24 de setembro de 2013, por volta de 22h35, um armazém industrial de 4.000 m², localizado a 2 km do Porto de São Francisco do Sul, protagonizou um desastre com proporções imensuráveis.

Os funcionários da empresa que trabalhavam no período noturno, sentiram um cheiro estranho, vindo do fundo do imóvel. Um deles foi verificar a situação e, ao chegar ao local, se deparou com uma concentração muito grande de fumaça, a partir disso, o trabalhador e os colegas acionaram o Corpo de Bombeiros Voluntários (CBV). A ausência de chamas no incidente chamou a atenção, mas se explica porque a reação não atingiu temperatura suficiente para gerar o plasma. Esse estado químico é responsável pela formação da chama e depende da emissão de luz e da alta temperatura combinadas. Assim, o que aconteceu foi que, mesmo sem chamas, houve liberação intensa de fumaça e forte aquecimento por meio de uma reação exotérmica, reconhecida por liberar calor.

A operação acabou envolvendo diversas entidades, como mostra o quadro

Há de ser feito uma ressalva para o modo em que o acontecimento foi nomeado na época, e em algumas situações atuais. “Incêndio” e “acidente” foram as palavras que dominaram as manchetes dos jornais, sendo que o incêndio se caracteriza pela presença de chamas (o que não aconteceu na ocasião), e o acidente se trata de circunstâncias fortuitas, que ocorrem pelo acaso. Entretanto, segundo o perito criminal Rogério Tocantins, do Instituto Geral de Perícias (IGP), que trabalhou no caso, houve sim, elementos que deram origem à reação química e isso qualifica o uso do termo “incidente”.

Identificação do material

Inicialmente o combate à fumaça ficou impedido de ser realizado devido à dificuldade em reconhecer o produto e a demora em receber as diretrizes da Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). O documento que fornece informações sobre o aspecto de produtos químicos, quanto à segurança, à saúde e ao Meio Ambiente, permitiria uma atuação segura na resolução do incidente.

Diante das dificuldades ali impostas, as decisões começaram a ser tomadas pelo comandante do CBV, João dos Santos Junior: “Montamos um posto de comando e dali estabelecemos as diretrizes repassando as frentes de trabalho. Adotei assim que cheguei ao local como medida preventiva, a evacuação de todo o raio de 5 km em primeiro momento.”

A descoberta do material só aconteceu através de uma conversa com os proprietários da empresa, Nelson Possamai e Claudio Pereira dos Santos. Ao serem questionados sobre o que estava guardado no galpão, se chegou à informação de que se tratava de uma carga de 10 mil toneladas de fertilizantes com base em nitrato de amônia e cloreto de potássio. Há 20 dias armazenadas no local, essas substâncias pertenciam a um material químico do tipo NK210021 (21% de nitrogênio, 0% de fósforo e 21% de potássio).

Croqui (esboço cartográfico) da distribuição das 10 mil toneladas de fertilizantes que entraram em combustão. Foto: CBM.

O procedimento padrão de identificação adotado pelos bombeiros foi exigido, pois dependendo da substância, a água usada na operação pode ter um efeito diferente, culminando até em uma possível intensificação da fumaça foi o que aconteceu quando os bombeiros optaram por uma estratégia arriscada, que visava diminuir a intensidade da reação. Em determinado momento, eles usaram o helicóptero Arcanjo para coletar água do mar e jogar no material do armazém. A fumaça aumentou, pois a água salgada do mar, que possui cloreto (NaCl) em sua composição, catalisou a reação ao entrar em contato com o fertilizante, visto que o íon cloreto é um catalisador da reação de decomposição térmica do fertilizante.



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